sexta-feira, agosto 18, 2006

 

Identificação do limiar de lactato nos exercícios resistidos: rosca bíceps e mesa flexora

1. Introdução

O limiar anaeróbio (LA), isto é, a transição do exercício aeróbio para o anaeróbio, tem sido bem estudado em exercícios dinâmicos como pedalar e correr, porém pouco se conhece sobre esse fenômeno no Exercício Resistido (ER). Desta forma, o presente estudo teve como objetivo estudar o Limiar de Lactato (LL) em ER nos exercícios de Rosca Bíceps (RB) e Mesa Flexora (MF).

De acordo com os conceitos mais atuais, o exercício resistido, que geralmente é realizado com pesos, embora possamos impor outras formas de resistência ao músculo esquelético (AGOSTINI, 2000; CONLEY 2001), é considerado adequado para indivíduos saudáveis ou portadores de doenças crônicas (POLITO E FARINATTI 2003), por apresentarem baixo risco, quando bem orientado, e aumentarem as capacidades funcionais (ABERNETHY ET AL., 1995; POLLOCK ET AL., 1998; EVANS, 1999; FOLDVARI ET AL., 2000; FRIEDRICH, 2001), estimulando a força e a resistência muscular, a flexibilidade, e a capacidade de aceleração. Estas qualidades o tornam imprescindível na prescrição do treinamento para as mais distintas populações (POLLOCK ET AL. 1998; EVANS, 1999)

A melhoria dessas valências físicas contribui para evitar a incapacidade física de sedentários e idosos, minimizando assim o risco do aparecimento de doenças crônicas, tão bem, ou melhor, do que outros tipos de atividade física, portanto não se tratando de uma modalidade esportiva, mas de uma forma de preparação física, utilizada por atletas em geral, e também em terapêutica, reabilitação, estímulo à saúde, estética e lazer (SANTARÉM, 1999).

A resistência do exercício geralmente é determinada através de um percentual da carga máxima em uma única repetição (1-RM), ou estipulada por número de repetições máximas (POLITO, 2003; American College, 2002)

Em um estudo realizado com vinte e oito homens idosos que foram submetidos a um protocolo de treinamento com pesos de alta intensidade durante dezesseis semanas, foi encontrado aumento significativo na capacidade cardiorrespiratória, quando analisado pré e pós-treinamento, e com grupo controle em protocolo de esteira, a melhora se deu tanto para valores relativos como absolutos de VO2máx. (HAGERMAN et al., 2000).

MARCINIK et.al. (1991), realizaram um treinamento com pesos durante doze semanas, e chegaram à conclusão de que o treinamento com pesos melhorou a performance em atividade de endurance, independentemente do aumento do VO2máx. Este aumento parece estar relacionado ao aumento de força da perna e aumento da velocidade no limiar anaeróbio.

Tais aumentos podem ser atribuídos a alguns fatores como, aumentos nos níveis do limiar anaeróbio (SANTARÉM, 1999), a conversão das fibras do tipo IIb para IIa e aumento da capilarização, o que resultaria numa melhor capacidade do músculo utilizar o oxigênio (HAGERMAN et al., 2000; GREEN et al., 1998). Destas hipóteses acima, conclui-se que quanto maior for a capacidade muscular de gerar força, menor será o trabalho para a realização da mesma tarefa, portanto diminuindo o percentual da força empregada para valores abaixo de 40% da força contrátil, assim diminuindo a oclusão dos capilares e desta maneira mantendo um aporte adequado de oxigênio, facilitando o metabolismo aeróbio (SANTARÉM, 1999; HAGERMAN et al., 2000).

Assim como as demais atividades físicas, os exercícios resistidos também apresentam respostas e ajustes fisiológicos agudos e crônicos.

Em alguns estudos que monitoraram a pressão arterial diastolica (PAD) e sistólica (PAS) após exercício resistido, foi observada uma redução da PAD principalmente após treinamento menos intenso, mas por um período relativamente curto. Sessões mais intensas parecem promover um período maior de redução da PAS (FOCHT, 1999; POLITO, 2003b).

Parâmetros de medidas que possibilitem prolongar esforços tais como limiar de lactato, ventilatório ou de freqüência cardíaca, parecem ter maior relação com a qualidade de vida do que valores elevados de potência aeróbia, fundamental à performance esportiva, porém superfula para o trabalho físico comum (SANTARÉM, 1999).

Nos dias atuais o limiar anaeróbio (AT) ou limiar de lactato (LL), vem se tornando uma das ferramentas mais úteis para a determinação da condição física e a prescrição segura dos exercícios físicos, permitindo uma boa avaliação do estado de resistência momentânea (WEINECK, 1999), sejam eles de caráter contínuos (caminhada, corrida, natação), ou intermitentes, como é o caso dos ER.

Por este fato, o presente estudo teve como propósito investigar a existência do Limiar de Lactato nos exercícios resistidos.


2. Objetivo

  1. Verificar a existência do Limiar de Lactato em exercício resistido crescente, em termos percentuais e absolutos de 1-R.M..


3. Métodos

Participaram deste estudo 6 indivíduos do sexo masculino com 25,5 + 5,7 anos de idade e, 84,8 + 13,9 kg de peso corporal. Todos os indivíduos eram treinados em exercício resistido a mais de 2 anos. Antes da realização dos testes todos os indivíduos assinaram um termo de consentimento. A coleta constou das seguintes etapas: a) medidas do peso corporal; b) Teste de Uma Repetição Máxima (1-R.M.) (Guimarães Neto, 1997) objetivando obter a carga máxima nos exercícios de rosca bíceps e mesa flexora

Foram adotados os seguintes procedimentos no teste de carga máxima:

  1. Realização de um aquecimento músculo-articular específico ao movimento a ser testado, observando a técnica correta de execução, já que variações na execução do movimento levam a ativação de outros músculos.

  2. Aplicação de uma carga supostamente próxima à capacidade máxima do individuo, o qual deveria realizar uma repetição completa do exercício, e não deveria executar a segunda repetição completa do movimento, sendo considerada esta a Carga Máxima. Caso o avaliado consegui-se executar duas repetições completas, a carga era aumentada, aguardando cinco minutos entre uma série e outra para a completa recuperação do grupo muscular envolvido.

  3. Protocolo de Carga Crescente: o protocolo foi realizado 2 dias após o teste de 1 RM, seguindo a seguinte padronização: O fracionamento das cargas foi feito da seguinte maneira: 10, 20, 25, 30, 35, 40, 50, 60, 70, 80, 90% da carga máxima (1 RM). O fracionamento foi determinado dessa forma, por ser verificado em estudos piloto, que o limiar de lactato em protocolo de 20 repetições em 1 minuto, com uma repetição a cada 3 segundos e pausa de 2 minutos entre cada estágio, ocorre por volta de 28 a 35% de 1 RM. O ciclo de cada repetição foi de três segundos, controlados através de sinal sonoro. Cada estágio teve a duração de um minuto, completando vinte repetições, com intervalo de 2 minutos para coleta de sangue do lóbulo da orelha e ajuste da carga.

    O teste era finalizado por incapacidade de realizar o movimento dentro da mecânica correta do exercício, pela incapacidade de realizar o número de repetições completas no tempo referido para o estágio ou ainda por vontade do avaliado, apesar do estímulo do avaliador.

  4. Coleta e análise sanguínea: As coletas sanguíneas foram realizadas por punção com lanceta descartável, no lóbulo da orelha, que sofreram assepsia local prévia com álcool, usando-se luvas descartáveis. Foram utilizados capilares heparinizados calibrados para 25 l (micro-litros) de sangue arterializados, e armazenados em tubos Eppendorff com 50 l de fluoreto de sódio (NaF) a 1%. Para cada amostra coletada, foi realizado uma assepsia local para evitar contaminação do sangue pelo suor ou outro material que inutilize as amostras sanguíneas. Todas as amostras foram armazenadas em freezer para conservação adequada e posterior análise.

    A lactacidemia foi determinada por um analisador de lactato eletro-enzimatico, YSI 1500 SPORT (Yellow Springs Inc.- USA). Os valores foram expressos em mmol/l.

  5. Determinação do Limiar de Lactato: Ponto de inflexão da curva da lactacidemia em função da intensidade percentual da 1RM (WASSERMAN,1986), através da inspeção visual das curvas.

    Os resultados da estatística descritiva foram expressos em termos da média e do desvio padrão (DP) das amostras. O teste t de Student para variáveis dependentes foi utilizado para verificar a existência de diferenças estatística na % de 1RM no limiar de lactato para as duas técnicas utilizadas em sua determinação (THOMAS & NELSON, 2002). Em todos os casos, o nível de significância aceito foi de p<0,05>


3.1. Seleção dos exercícios

  1. Rosca Direta: Exercício de característica monoarticular (flexão do cotovelo), envolve a ação coordenada do bíceps braquial e braquial. Envolve pequena massa muscular.

    O exercício deverá ser realizado com o individuo na posição de pé, semi-flexão do joelho e costas apoiadas. A barra deverá estar abaixo da linha do quadril, com os cotovelos totalmente estendidos. Durante a realização do movimento, o voluntário deverá realizar flexão completa do cotovelo através da ação concêntrica do bíceps, sem retirar as costas do apoio e, em seguida, retornar à posição inicial através da contração excêntrica do mesmo (DELAVIER, 2000).

  2. Mesa Flexora: Deitado em decúbito ventral no aparelho, mãos sobre os pegadores, pernas totalmente estendidas e tornozelos sob os apoios. Realizar flexão simultânea dos joelhos através de contração concêntrica dos músculos posteriores da coxa, até próximo às nádegas e, em seguida, retornar à posição inicial através da contração excêntrica do mesmo (DELAVIER, 2000).


4. Resultados

A Tabela 1 fornece a análise descritiva dos resultados em termos absolutos (Kg) e relativos (%) à carga máxima (1 RM). Não foram encontradas diferenças significativas (p < 0,05), quer para valores absolutos como relativos à 1 RM.

Tabela 1: Análise descritiva dos resultados em termos absolutos (Kg) e relativos (%) à carga máxima (1 RM).


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Gráfico 1: Determinação do Limiar de Lactato no exercício Rosca Bíceps

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Gráfico 2: Determinação do Limiar de Lactato no exercício Mesa Flexora

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5. Discussão

A análise dos resultados e do gráfico 1, nos permite concluir que, o comportamento da cinética do lactato em exercício resistido crescente, é semelhante à cinética em exercícios dinâmicos cíclicos crescentes (nadar, correr...), permitindo a clara e objetiva verificação do limiar de lactato por intensidade de esforço, através de um crescimento exponencial do lactato , de acordo com o proposto por WASSERMAN (1986) e, encontrado por AGOSTINI (2000), OLIVEIRA (2002).

O limiar de Lactato foi encontrado em torno de 28% da carga máxima, independente do exercício e da massa muscular total utilizado, corroborando com valores encontrados por AGOSTINI (2000) e OLIVEIRA (2002), em protocolo de avaliação semelhante. VILLIGER et al.(1995), cita que durante ação muscular resistida dinâmica, o predomínio do metabolismo aeróbio é somente até cargas de aproximadamente 30% de 1 RM. A ocorrência do limiar de lactato na intensidade de 30% de 1 RM, seria devido ao colabamento dos vasos sanguíneos, em decorrência do aumento da pressão intramuscular ser maior que a do capilar neste momento (PETROFSKY,1984).


6. Conclusão e perspectivas de aplicação

Em conclusão, foi constatado que:

  1. Durante a realização do teste crescente em exercício resistido, este apresentou características semelhantes ao teste crescente dinâmico cíclico, quando comparada à cinética do lactato.

  2. Embora os tamanhos dos grupamentos musculares fossem diferentes, o comportamento lactacidemico foi semelhante.

  3. O limiar de Lactato em valores relativos encontra-se a aproximadamente 28% de 1 RM, para os exercícios Rosca Bíceps e Mesa Flexora.

Estes resultados abrem uma perspectiva diferente para quem quer melhorar o condicionamento aeróbio ou a resistência muscular, sendo parâmetro mais preciso para a correta prescrição do treinamento, tanto para as chamadas populações especiais, tais como, idosos, gestantes, hipertensos, como para atletas e indivíduos em busca de uma melhor qualidade de vida.


Referências bibliográficas


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